Azul Puro é a Cor do Ano 2026: como é o estudo de tendências da Coral?
Diretora Criativa da AksoNobel, Heleen van Gent explica à CASACOR a escolha do Azul Puro como Cor do Ano 2026 e seus significados

O Azul Puro foi definido pela Tintas Coral como a Cor do Ano 2026 a partir de um estudo chamado ColourFutures – realizado há mais de 20 anos pela AkzoNobel para o mapeamento de tendências comportamentais em diferentes países. Quem lidera as pesquisas é Heleen van Gent, Diretora Criativa do Centro de Estética Global da companhia, acompanhada de uma equipe composta por mais de 15 especialistas em cores de múltiplas nacionalidades – incluindo as brasileiras Adriana Pedrosa e Carlota Gasparian, do Atelier Adriana e Carlota.

Em entrevista à CASACOR, Heleen van Gent explica que a definição das paletas envolve estudos aprofundados sobre os sentimentos que permeiam a sociedade ano após ano. “Tudo começa com o nosso grupo de especialistas, que inclui arquitetos e designers de produtos e outras pessoas que trabalham na área. Nós perguntamos a eles: ‘Quais os fatores influenciarão a maneira que viveremos em nossas casas nos próximos anos?’“.

Em 2026, o Azul Puro surge como uma resposta à busca por mais equilíbrio, fluidez e clareza em tempos onde há excesso de estímulos. Já o Curry Dourado de 2025 representava alegria e transformação que os tempos pediam. É mais sobre sentimentos e menos sobre aparência. Não à toa, o trabalho de Heleen van Gent e sua equipe se entrelaça aos conceitos da neuroestética – área que combina neurociência, psicologia e estética para investigar os mecanismos por trás da experiência visual.

“Falamos sobre movimentos sociais, econômicas e culturais. Então, traduzimos tudo isso em tendências globais de design”, complementa a especialista em cores. Segundo Heleen, o processo criativo leva cerca de seis meses. A partir disso, a Cor do Ano enfrenta processos de aprovação, tradução e divulgação nos 80 países em que as Tintas Coral são comercializadas. Mais do que aumentar as vendas de determinadas cores, o objetivo do ColourFutures é inspirar os consumidores a fazer as escolhas certas no momento certo. Abaixo, confira a entrevista de Heleen van Gent para a CASACOR!
Na CASACOR, nós também fazemos uma pesquisa de macrotendências para definir qual será o tema da nossa próxima exposição. Você sente que, em seus estudos, os sentimentos, emoções e humor mudam de um ano para o outro?
“Trata-se mais de uma evolução do que uma revolução, mas você vê as coisas mudando. Em alguns anos, o contexto é mais otimista. Em outros, mais competitivo ou mais ansioso. É sobre entender o que está por vir, porque definitivamente há um humor diferente a cada ano. Nós sempre queremos contar uma história diferente, então escolhemos uma parte do espectro para dar mais atenção. É isso o que estamos fazendo”.
Eu notei que a cor deste ano, o Azul Puro, é uma cor primária e a do ano passado, o Curry Dourado, também era. Isso significa alguma coisa?
“Sim, significa que nós queríamos ir direto ao ponto! Nos últimos anos, não quisemos nos agarrar apenas ao que era mais seguro. Pensamos: ‘Vamos em frente, vamos apostar nesse super amarelo. Vamos apostar nesse azul brilhante!’. Queríamos contar uma história, então destacar esse azul foi a nossa escolhar por sermos ousados, não nos segurarmos”.
Isso quer dizer que o vermelho também é uma opção para os próximos anos?
“Por agora, provavelmente não (risos). Não faz sentido com o contexto que acreditamos que o mundo precisa nesse momento, é muito quente. Temos usado vermelho e laranja em toques pontuais, mas para a Cor do Ano prezávamos por uma tonalidade mais fria“.
Todo ano vocês determinam qual é a Cor do Ano. Vocês não esperam que as pessoas mudem suas casas a cada edição, certo?
“Queremos que eles desenvolvam o que já têm! Então, queremos que eles adicionem uma cor a uma parede ou o teto, mas reconhecemos que não é sustentável ter uma cor do ano e depois mudá-la por algo completamente diferente. Não, esse não é o objetivo. As cores são muito pessoais, então você escolhe uma cor que combine com você – e as pessoas não mudam tão rápido!”.
Você comentou que esse é um estudo mundial. Há alguma adaptação dessas cores de acordo com as características culturais de cada país?
“Nosso primeiro passo é perguntar ao nosso time de especialistas pelo mundo quais são as famílias de cores que deveríamos nos aprofundar. Após a definição da Cor do Ano, temos uma grande reunião com eles novamente para saber se essa cor funcionaria para eles – e se haveria algum problema em seus países do qual não estamos cientes. É muito importante sabermos a opinião deles. Já aconteceu de mudarmos o nome devido às difenças culturais, mas a cor está boa na maioria das vezes. Em alguns casos nos pedem para torná-la mais cinza (a exemplo dos países escandinavos) ou até mais brilhante. No fim, sempre chegamos a uma opção que todos concordam. É algo para se orgulhar”.
Eu gostaria que você falasse um pouco sobre a responsabilidade de montar essas paletas, porque as cores têm um impacto enorme no humor e até na saúde mental das pessoas, certo? Como você lida com isso?
“Nós fazemos muita pesquisa quando se trata de pessoas neurodivergentes ou com demência, já que a população está ficando mais velha e cada vez sofre mais com isso. Temos resultados importantes para que saibamos como algumas cores se encaixam melhor em algumas áreas do que em outras. No entanto, isso também vai além da nossa pesquisa de tendências. O impacto emocional das cores é muito pessoal. O que fazemos é sugerí-las, então cada um escolhe se quer ser abraçado por ela ou não”.
Citando novamente a CASACOR, nossos arquitetos costumam abusar das cores em seus projetos. Mas, quando vamos para as ruas, vemos que os brasileiros não são exatamente ousados em suas escolhas de cor. Um exemplo disso são os nossos carros. Como uma especialista em cores, o que você considera que isso diz sobre nós?
“Eu acredito que as escolhas de cores no Brasil dizem algo semelhantes ao resto do mundo. Quando você compra um carro, você quer revendê-lo depois de alguns anos. Por isso, precisa que seja uma escolha segura, certo? Um carro amarelo provavelmente será mais difícil de alguém querer comprá-lo. Mas com tinta, você pode experimentar. É um produto acessível, que te permite brincar e experimentar. Você escolhe tintas coloridas para mostrar sua personalidade às pessoas que visitam a sua casa – então é totalmente diferente em relação aos carros. A tinta não é permanente, basta mudá-la!”.
E qual seria o seu conselho para as pessoas que querem experimentar novas cores, mas não sabem como?
“Comece com uma base neutra. Também temos opções de neutros coloridos, que fogem dos clássicos cinza, branco e preto. Há muitos exemplos que você pode escolher, então pegue uma base neutra e contrua sobre ela. Faça um destaque, o interior da janela, uma parede… até o teto! Comece com pequenos toques e as cores podem te conquistar!”.
Para finalizar, você já começou os estudos para a Cor do Ano 2027?
“Sim! Eu estou muito animada com a nova temporada, nós já estamos testando cores em diferentes regiões e mercados. Nosso ciclo funciona de maneira semestral, é aproximadamente o tempo que levamos em nossas pesquisas. Após isso, todos os países precisam assimilar e traduzir as informações que buscamos. Esse processo é muito técnico, às vezes leva bastante tempo. Em meio ano, nós entregamos nosso ‘filho’ para o mundo e ficamos na torcida (risos)”.