CASACOR SP apresenta experiência cognitiva e sensorial com uso de cores
Mostra utiliza neurodesign para criar ambientes emocionais e sensoriais, fazendo uso de cor, materiais e narrativa que geram experiências memoráveis

A CASACOR São Paulo 2025 consolida-se como uma das maiores experimentações práticas de neurodesign aplicado à percepção cromática, materialidade e acabamento, com forte integração de estratégias emocionais, sensoriais e narrativas, reforçando o papel da cor como agente cognitivo, emocional e comportamental no espaço arquitetônico. É o que afirma Marcia Holland, mestre e doutora em arquitetura e urbanismo, com especialização em Neurociências, consumo e marketing, além de especialista em Design Thinking, Design Sprint, Emotional Design e Metadesign, uma das poucas profissionais que reúne conhecimento técnico e artístico na área.

Holland visitou os 73 ambientes da edição paulista da CASACOR para trazer um olhar profissional sobre as sensações que podem ser vividas ao longo da mostra, que está em exposição até o dia 3 de agosto, no Parque da Água Branca. “A mostra não apenas apresenta tendências estéticas, mas materializa conceitos neurocientíficos fundamentais sobre percepção, emoção e memória, transformando cada ambiente em um experimento perceptivo, emocional e cognitivo“, explica, e continua: “A edição propõe, de maneira exemplar, uma aplicação avançada dos princípios de CMF (Color, Material, Finish) e do Neurodesign, configurando a exposição como um verdadeiro laboratório de percepção, cognição e experiência emocional no espaço construído”.
Ao longo do percurso, ela apontou 9 tendências para que o visitante possa sentir e vivenciar os ambientes em sua completude.
1. Cor como vetor narrativo e emocional: lidando com respostas emocionais
A temática “Semear Sonhos” é transposta para a linguagem espacial através de escolhas cromáticas que não apenas adornam, mas constroem significados narrativos e afetivos. O uso de cores derivadas da flora da Mata Atlântica presentes no Parque da Água Branca na pintura da Casa Coral, por Maurício Arruda, representa uma conexão direta com a memória coletiva, reforçando a relação simbólica entre cor, território, pertencimento e história. Segundo Marcia Holland, as cores selecionadas acionam gatilhos emocionais e sensoriais associados a experiências prévias armazenadas na memória afetiva dos visitantes.

Essa estratégia é claramente perceptível em espaços como o Café com Tempo (Daniela Andrade), Loft Alvorá (Paula Neder) e o Recanto de Histórias e Cores (Daniela Funari), onde tons de rosa seco e verde floresta promovem respostas emocionais de acolhimento, calma e otimismo, alinhadas ao conceito de color priming. O Color Priming é um fenômeno psicológico e neurocognitivo no qual a exposição prévia a uma cor específica influencia a resposta emocional, cognitiva e comportamental subsequente do indivíduo, mesmo de forma inconsciente. Esse processo faz parte do conjunto de efeitos conhecidos como “Priming Perceptivo” ou “Priming Sensorial“, em que um estímulo sensorial inicial (neste caso, uma cor) prepara o cérebro para reagir de maneira específica a estímulos seguintes, afetando percepção, atenção, memória e até mesmo decisões.

Nesta linha também se encontra o espaço Futuros Possíveis da Peugeot (Gisele Taranto). O uso do azul em múltiplos pontos do ambiente — veículo, arte digital e instalação tridimensional — gera um efeito de color priming no qual a repetição da cor reforça a memória de marca, estimulando a retenção subconsciente do espectador. Com isso, a interação entre o painel de LED, a instalação tridimensional e o design do carro criam uma experiência sensorial que ativa simultaneamente os circuitos visuais, auditivos (quando há som presente) e emocionais, fortalecendo a experiência de imersão e engajamento emocional, elemento central em projetos de neurodesign voltados à experiência de marca.

2. Processamento preditivo e hierarquia perceptiva: facilitando o caminhar
A organização espacial e cromática da mostra evidencia o conceito de processamento preditivo visual. Ambientes como a Escalada Brasileira, da OHMA Arquitetura, exemplificam a criação de hierarquias perceptivas progressivas, nas quais a sequência de cores acompanha o deslocamento espacial, gerando uma narrativa de ascensão emocional. Os três níveis cromáticos (terrosos, vermelhos/rosas e tons de azul/verde) não apenas orientam a locomoção física, mas também direcionam a expectativa cognitiva e a resposta emocional dos visitantes.

3. Materiais, acabamentos e neuroestética: é proibido não tocar…
Além da cor, o acabamento e a materialidade foram usados como ferramentas de estímulo multissensorial, seguindo os princípios do CMF Design. Ambientes como a Casa Cosentino (Romário Rodrigues) exploram a textura visual e tátil de superfícies como o Dekton® e o Silestone®, criando experiências sinestésicas que estimulam simultaneamente os sistemas tátil e visual. O projeto LE TT (Otto Felix) exemplifica o uso de acabamentos em madeira, texturas aveludadas e iluminação âmbar para promover percepções de aconchego, introspecção e sociabilidade, de acordo com os princípios da neuroarquitetura emocional.

4. Paletas biofílicas e a conexão com a natureza
A presença constante de verdes, terrosos e azuis em diversos ambientes — Trilha Onírica (Traço 8 Arquitetura), Casa Viva (Henrique Freneda), Jardim da Alameda (Catê Poli e João Jadão), Jardim de Inverno (Fernanda Zulzke) e Sopro (Beatriz Quinelato) — sinaliza a aplicação de estratégias biofílicas no design cromático. Estudos e pesquisas científicas na área de saúde indicam que tons que remetem à natureza estimulam a redução de cortisol e aumentam a sensação de bem-estar. Além disso, os verdes aplicados, tais como o Verde Artesão e o Verde Floresta, foram utilizados para criar ambientes restauradores, alinhados ao conceito de Restorative Environments, proporcionando recuperação cognitiva e redução da fadiga atencional.

5. Tendências de mercado e Dopamine Decor
Alguns ambientes, como o Recanto de Histórias e Cores (Daniela Funari), evidenciam a forte influência da tendência Dopamine Decor, na qual cores saturadas e contrastantes são utilizadas para estimular os mecanismos atencionais e provocar dinamismo no espaço. No caso da Casa Brastemp (Studio Roca), a escolha de tons como laranja e marsala reforça a identidade de marca por meio de uma estratégia cromática de branding sensorial, elemento cada vez mais valorizado na neurociência aplicada ao design. Cabe aqui destaque para o projeto de iluminação, em que elementos pontuais articulam os trajetos do ambiente.

6. O resgate afetivo e memória cultural
O Estúdio Theodoro (Felipe Carolo) destaca-se por uma curadoria cromática que transita entre a afetividade histórica e a sensibilidade material para explorar o potencial narrativo da cor, da textura e do acabamento. O projeto evoca respostas afetivas profundas e carregadas de memória. A paleta composta por verdes, amarelos, marrons e azuis é uma tradução direta da estética visual dos anos 1970, cuja referência foi o filme “Ainda estou aqui”. Essa seleção não é apenas decorativa, mas sim um dispositivo de ativação de memória emocional coletiva, especialmente para públicos que têm referências afetivas dessa década. O acabamento da bancada, ao emoldurar a grande janela, oferece um contraste entre materiais sólidos e a leveza da luz natural, criando uma dinâmica sensorial entre o interior e o exterior. As peças artísticas integradas ao espaço funcionam como elementos de pontuação cromática, enriquecendo a experiência visual e ampliando o repertório de estímulos CMF presentes.

7. Conforto Multissensorial
O ambiente O Respiro (Luciana Moreno) representa uma síntese sofisticada entre os princípios de CMF (Color, Material, Finish) e os fundamentos da Neurociência aplicada ao Design, com foco nos aspectos multissensoriais da cor. A escolha de tons terrosos como a terracota, somada aos tons de areia e aos azuis aquáticos, remete diretamente a elementos naturais (terra, areia, água), reforçando uma abordagem associativa que dialoga com os sistemas de memória afetiva cromática. A textura porosa e mineral une-se à superfície granulada da textura de areia nas paredes, ampliando o repertório tátil do espaço, ativando o sistema somatossensorial e promovendo o chamado “efeito de conexão tátil com a natureza”.

O projeto Casa de Novela (Gabriel Fernandes) trabalha com uma paleta de tons claros, naturais e com forte presença de azuis suaves, aplicados de forma estratégica para construir uma atmosfera de memória afetiva, delicadeza e luminosidade controlada. A fórmica em tom carvalho americano, aplicada nas vigas do forro, reforça a textura visual quente e natural, favorecendo uma experiência tátil indireta. A experiência tátil indireta é um conceito usado em neurociência do design e CMF para descrever situações em que o usuário não toca fisicamente no material, mas ainda assim percebe, interpreta ou reage emocionalmente à textura, ao acabamento ou à qualidade de superfície de um elemento espacial apenas com o olhar.

8. Percepção temporal: o tempo não passa…
O Hall Raízes (Renzo Cerqueira) destaca-se pela escolha de um azul vibrante e profundo que domina piso, paredes e teto, reforçando o protagonismo da cor como agente espacial. Além da referência escolhida pelo autor, a cor é simbolizada pela WGSN como a conexão entre a tecnologia e a natureza. Muito mais que isso, neste ambiente ocorre um fenômeno interessante chamado percepção temporal não-linear em neurodesign experiencial. A percepção temporal não-linear, dentro do campo do neurodesign, refere-se ao fenômeno em que o usuário de um espaço não vivencia o tempo de maneira objetiva ou constante, mas sim de forma psicologicamente distorcida, tais como ter a sensação de que o tempo passou mais rápido ou mais devagar, ou então a percepção de simultaneidade de diferentes tempos (passado, presente e futuro sobrepostos) e ainda o flow state, em que a noção de tempo é temporariamente suspensa.

9. Arquitetura e ecologia
O Ninho, de Marko Brajovic, explora de forma intencional aspectos que impactam o estado mental dos visitantes pela intencionalidade ecológica da experiência. Fazendo uso do conceito de materialidade regenerativa, utiliza pinus de reflorestamento e plástico reciclado. Não é apenas uma decisão sustentável, mas uma escolha que reforça a sensação de pertencimento a uma lógica de economia circular e design responsável. As peças estruturais, com texturas naturais e acabamento natural, favorecem o engajamento tátil e visual. A obra dialoga com a paleta de verdes e marrons do próprio parque, criando um campo de integração cromática biofílica. O espaço físico reforça uma tipologia universal de abrigo, elemento central nas respostas instintivas de segurança segundo o modelo biocomportamental de Prospect-Refuge. A estrutura cria um jogo de esconde-revela, explorando o princípio do “Perceptual Predictive Coding”. Com isso, o visitante é convidado a explorar, descobrir e interagir, provocando um marcador de experiências sensoriais, promovendo uma ruptura de estímulos urbanos ruidosos e induzindo um estado de foco, presença e contemplação.

Workshop
No dia 10 de julho, das 14h30 às 17h, o Café Doce Arte recebe Marcia Holland para falar do tema Neurodesign: o design multissensorial para arquitetos e designers de interiores. O Pocket Workshop é uma experiência imersiva de 2h30. O objetivo é apresentar, de forma prática e interativa, conceitos inovadores de neurociência aplicada ao design de interiores e arquitetura, com foco na experiência sensorial do CMF.

O workshop proporcionará aos participantes — arquitetos, designers, decoradores e estudantes — vivências que estimulam a criatividade, explorando a relação entre percepção, emoção e funcionalidade nos projetos. Os diferenciais incluem uma curadoria exclusiva de materiais alinhada às tendências da CASACOR, uso da metodologia SAGAH (Selecionar, Analisar, Gerar, Aplicar e Harmonizar) e uma jornada sensorial que envolve tato, visão e emoção. Cada participante receberá um leque de cores da Tintas Coral, que apoia o evento, e outros materiais complementares.
Para participar é necessário se inscrever pelo link: https://appcasacor.com.br/events/palestras-sao-paulo-2025/tickets?ticket=10-07-pocket-workshop-neurodesign-com-marcia-holland
Serviço CASACOR São Paulo 2025
- Onde: Parque da Água Branca, Rua Dona Ana Pimentel, 37
- Quando: de 27 de maio a 03 de agosto de 2025
- Horário bilheteria: terça a domingo* das 11h às 19h
* fechamento da bilheteria física 15 minutos após o último horário. A visita poderá acontecer até às 21h. - Horário de funcionamento do evento: terça a domingo, das 11h às 21h
- Bilheteria digital: https://appcasacor.com.br/events/sao-paulo-2025
- Valores ingressos: de terça a domingo e feriados – R$121,00 (inteira) e R$ 60,50 (meia entrada)
- Compra de ingresso de meia-entrada
– Idoso a partir de 60 anos – Estudante apresentando o documento válido com foto ou recibo de pagamento. – PNE (portador de necessidade especiais) e seu acompanhante (conforme lei 12.933/13)
– Professor da rede pública e privada, apresentando o documento válido com foto. * Promoção de pré-venda não válida para meia entrada * Comprovação de meia-entrada será exigida na porta. Importante: Gratuidade de entrada para crianças com idade comprovada de até 10 anos.
1 (um) CPF pode comprar no máximo 10 ingressos. Venda Grupo: Compras acima de 10 ingressos ou por CNPJ, envie e-mail para bilheteriacasacor@abril.com.br
- Compra de ingresso de meia-entrada