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“A boa foto conta uma história”, reflete Sebastião Salgado sobre sua obra

Durante entrevista, Sebastião Salgado compartilhou seus pensamentos sobre memória, história e o papel da fotografia como linguagem e testemunho

Por Marina Pires
Atualizado em 23 Maio 2025, 17h06 - Publicado em 23 Maio 2025, 16h55

Sebastião Salgado, um dos maiores nomes da fotografia mundial, morreu nesta sexta, 23, aos 81 anos. A informação foi confirmada pelo Instituto Terra, organização fundada por ele e sua esposa, Lélia Wanick Salgado. Dono de um olhar sensível e comprometido, Salgado registrou com profundidade o Brasil, o mundo e as muitas histórias humanas que encontrou pelo caminho. Deixou mais de 500 mil imagens em seu acervo — e um legado difícil de mensurar.

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Salgado
Fruto do trabalho de sete anos (2013 a 2019) estudando e fotografando as diversas faces da floresta, “Amazônia” é uma série que faz uma verdadeira homenagem ao Brasil. (Sebastião Salgado/CASACOR)

Em maio de 2024, a CASACOR teve a prazer de acompanhar um dos últimos compromissos públicos de Salgado no Brasil. No Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, ele apresentou sua exposição sobre a Revolução dos Cravos — movimento que, em 1974, pôs fim à ditadura militar em Portugal. Sebastião Salgado não só viveu esse momento de perto, como começou ali a desenvolver sua linguagem fotográfica. “Eu aprendi a fotografar em Portugal. Nunca tinha usado flash antes — foi lá que fiz minha primeira foto com flash. Foi um período essencial na minha formação”, contou ele.

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Coletiva imprensa com Sebastião Salgado no MIS em maio de 2024.
Coletiva imprensa com Sebastião Salgado no MIS em maio de 2024. (Marina Pires/CASACOR)

Durante a conversa com jornalistas, o fotógrafo refletiu sobre o papel da imagem e a subjetividade do olhar: “A fotografia não mostra uma realidade absoluta. Ela mostra o ponto de vista de quem está atrás da câmera. É sempre subjetiva, nunca objetiva.”

Coletiva imprensa com Sebastião Salgado no MIS em maio de 2024.
Sebastião Salgado autografando livros na livraria do MIS pós coletiva de imprensa em maio de 2024. (Marina Pires/CASACOR)

Salgado também falou sobre sua experiência como professor de fotografia em Portugal e sobre o que, para ele, diferencia uma imagem comum de uma que realmente comunica. “Durante os anos em que dei aula de fotografia em Portugal, percebi que poucos realmente seguiriam o caminho. Eu dizia: primeiro estudem sociologia, antropologia, depois voltem para a fotografia. A imagem ganha outro peso quando você entende o mundo que está tentando registrar”.

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Sebastião Salgado documenta a história da humanidade em trânsito, nas estradas, nos campos de refugiados ou ainda nas favelas urbanas durante seis anos e quarenta países.
Sebastião Salgado documenta a história da humanidade em trânsito, nas estradas, nos campos de refugiados ou ainda nas favelas urbanas durante seis anos e quarenta países. Church Gate Station, Bombay, India, 1995 (Sebastião Salgado/CASACOR)

Sempre direto, ele comentou sobre a banalização da fotografia na era digital: “Não é porque você tem um celular que você é fotógrafo. A fotografia é mais do que isso. É o espelho da sociedade em que vivemos. E hoje, infelizmente, há poucos fotógrafos de verdade”. Por fim, deixou uma de suas reflexões mais marcantes: “Fotografia a gente sente. Você toca, você vê, ela gera memória. Uma boa fotografia conta uma história. Ela produz lembrança, constrói uma memória coletiva.”

As falas de Sebastião Salgado seguem ecoando — assim como suas imagens. Mesmo após sua partida, seu trabalho reafirma a fotografia como memória, testemunho e linguagem do tempo.

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