“A boa foto conta uma história”, reflete Sebastião Salgado sobre sua obra
Durante entrevista, Sebastião Salgado compartilhou seus pensamentos sobre memória, história e o papel da fotografia como linguagem e testemunho

Sebastião Salgado, um dos maiores nomes da fotografia mundial, morreu nesta sexta, 23, aos 81 anos. A informação foi confirmada pelo Instituto Terra, organização fundada por ele e sua esposa, Lélia Wanick Salgado. Dono de um olhar sensível e comprometido, Salgado registrou com profundidade o Brasil, o mundo e as muitas histórias humanas que encontrou pelo caminho. Deixou mais de 500 mil imagens em seu acervo — e um legado difícil de mensurar.

Em maio de 2024, a CASACOR teve a prazer de acompanhar um dos últimos compromissos públicos de Salgado no Brasil. No Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, ele apresentou sua exposição sobre a Revolução dos Cravos — movimento que, em 1974, pôs fim à ditadura militar em Portugal. Sebastião Salgado não só viveu esse momento de perto, como começou ali a desenvolver sua linguagem fotográfica. “Eu aprendi a fotografar em Portugal. Nunca tinha usado flash antes — foi lá que fiz minha primeira foto com flash. Foi um período essencial na minha formação”, contou ele.

Durante a conversa com jornalistas, o fotógrafo refletiu sobre o papel da imagem e a subjetividade do olhar: “A fotografia não mostra uma realidade absoluta. Ela mostra o ponto de vista de quem está atrás da câmera. É sempre subjetiva, nunca objetiva.”

Salgado também falou sobre sua experiência como professor de fotografia em Portugal e sobre o que, para ele, diferencia uma imagem comum de uma que realmente comunica. “Durante os anos em que dei aula de fotografia em Portugal, percebi que poucos realmente seguiriam o caminho. Eu dizia: primeiro estudem sociologia, antropologia, depois voltem para a fotografia. A imagem ganha outro peso quando você entende o mundo que está tentando registrar”.

Sempre direto, ele comentou sobre a banalização da fotografia na era digital: “Não é porque você tem um celular que você é fotógrafo. A fotografia é mais do que isso. É o espelho da sociedade em que vivemos. E hoje, infelizmente, há poucos fotógrafos de verdade”. Por fim, deixou uma de suas reflexões mais marcantes: “Fotografia a gente sente. Você toca, você vê, ela gera memória. Uma boa fotografia conta uma história. Ela produz lembrança, constrói uma memória coletiva.”
As falas de Sebastião Salgado seguem ecoando — assim como suas imagens. Mesmo após sua partida, seu trabalho reafirma a fotografia como memória, testemunho e linguagem do tempo.